terça-feira, 25 de setembro de 2012

GRAND FINALE: UM BOM COMEÇO - Por Chris Galdino


      

A primeira coisa que sinto a necessidade de louvar é a decisão de homenagear Pina Bausch (1940-2009), oferecendo ao público leigo, ainda que indiretamente, uma possibilidade de encontro com a poética original e genial criada por ela, que é um dos principais nomes da dança contemporânea mundial. A iniciativa do coreógrafo Marcos Mercury é no mínimo ousada, para um panorama onde a profissionalização em dança ainda está em processo e nem os bailarinos mais informados conhecem de fato vida e a obra de Pina. Aplausos de novo, dessa vez, para a capacidade de Marquinhos de envolver tanta gente no seu apaixonado projeto, e olha que estamos falando de 12 pessoas só no elenco, sem contar os tantos técnicos, produtores, auxiliares e apoiadores que ele consegue agregar. 

Porém grandes saltos trazem altos riscos. Talvez a vontade de fazer referência a muitas obras de Pina tenha limitado a criação, que pode crescer em significado se ampliar a pesquisa libertando-se da função de ilustração. Os figurinos, principalmente os vestidos longos de cetim, mereciam modificações para facilitar o movimento das bailarinas. Uma trilha sonora original poderia dar o tom ideal ao trabalho. 

Na condição de exercício de conclusão de um processo formativo, Grand Finale é uma iniciativa louvável, que pode e deve ser replicada e desdobrada em eventos futuros. Como espetáculo profissional de dança contemporânea, Grand Finale é um bom começo, o pontapé inicial do que pode vir a ser uma sólida pesquisa de linguagem do audacioso Marcos Mercury. Mas para isso, além das questões estéticas e conceituais que pontuei, o coreógrafo precisa e merece profissionalizar sua produção, acessar mecanismos de fomento, e estabelecer relações de trabalho mais formais, preservando a afetividade e a amizade, claro. E com a coragem, o talento e a ousadia características de Marcos Mercury ninguém duvida que este será um projeto de sucesso.

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