A
primeira coisa que sinto a necessidade de louvar é a decisão de homenagear Pina
Bausch (1940-2009), oferecendo ao público leigo, ainda
que indiretamente, uma possibilidade de encontro com a poética original e genial criada por ela, que
é um dos principais nomes da dança contemporânea mundial. A iniciativa do
coreógrafo Marcos Mercury é no mínimo ousada, para um panorama onde a
profissionalização em dança ainda está em processo e nem os bailarinos mais
informados conhecem de fato vida e a obra de Pina. Aplausos de novo, dessa vez,
para a capacidade de Marquinhos de envolver tanta gente no seu apaixonado projeto,
e olha que estamos falando de 12 pessoas só no elenco, sem contar os tantos
técnicos, produtores, auxiliares e apoiadores que ele consegue agregar.
Porém
grandes saltos trazem altos riscos. Talvez
a vontade de fazer referência a muitas obras de Pina tenha limitado a criação,
que pode crescer em significado se ampliar
a pesquisa libertando-se da função de ilustração. Os figurinos, principalmente
os vestidos longos de cetim, mereciam modificações para facilitar o movimento
das bailarinas. Uma trilha sonora original poderia dar o tom ideal ao trabalho.
Na
condição de exercício de conclusão de um processo formativo, Grand Finale é uma iniciativa louvável,
que pode e deve ser replicada e desdobrada em eventos futuros. Como espetáculo
profissional de dança contemporânea, Grand
Finale é um bom começo, o pontapé
inicial do que pode vir a ser uma sólida pesquisa de linguagem do audacioso
Marcos Mercury. Mas para isso, além das questões estéticas e conceituais que
pontuei, o coreógrafo precisa e merece profissionalizar sua produção, acessar
mecanismos de fomento, e estabelecer relações de trabalho mais formais,
preservando a afetividade e a amizade, claro. E com a coragem, o talento e a
ousadia características de Marcos Mercury ninguém duvida que este será um
projeto de sucesso.
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