‘Não se sabe direito de onde vem’, disse porta-voz do Vaticano. ‘Mulher’ nem sempre significa ‘esposa’ em textos antigos, afirmou professor.

Da AFP
O papiro revelado pela professora americana Karen King, que
supostamente menciona a existência da esposa de Jesus, causou sensação,
mas a teoria de que Cristo teria sido casado foi vista com ceticismo por
parte do Vaticano e outros historiadores.
A pesquisadora da Escola de Teologia de
Harvard, revelou a existência de um papiro cristão copta do século IV
que contém a frase “Jesus disse a ele, minha esposa”.
Durante congresso sobre estudos coptas, a
especialista falou da teoria de que os antigos cristãos acreditavam que
Jesus era casado. Ela enfatizou que o papiro em questão não prova que
Jesus tenha sido casado, mas levanta a questão desse suposto casamento,
muito embora a tradição cristã faça questão de negar essa possibilidade.
“No princípio, os cristãos discordavam
sobre se era ou não casado, mas somente depois de um século da morte de
Jesus que começaram a usar condição conjugal de Jesus para apoiar suas
posições”, acrescentou King.
Análises
Apesar de vários especialistas acreditarem na autenticidade do papiro, “a sentença final sobre o fragmento depende de novas análises por parte de colegas e da realização de mais testes, principalmente sobre a composição química da tinta”, explicou ainda.
Apesar de vários especialistas acreditarem na autenticidade do papiro, “a sentença final sobre o fragmento depende de novas análises por parte de colegas e da realização de mais testes, principalmente sobre a composição química da tinta”, explicou ainda.
Procurado pela AFP, o porta-voz da Santa
Sé, Federico Lombardi, afirmou que “não se sabe direito de onde vem esse
pedaço de pergaminho”.
“Mas isso não muda em absoluto a posição da Igreja, que se baseia em uma longa tradição muito clara e unânime”, afirmou.
“Não muda em nada a visão sobre Cristo e
os Evangelhos. Este acontecimento não tem influência alguma sobre a
doutrina católica”, enfatizou.
Por sua parte, o professor da Faculdade
Protestante de Paris, Jacques-Noel Peres, destacou que se trata de um
texto tardio: “Nunca li textos de épocas anteriores que testemunhassem a
veracidade de um casamento de Jesus”, afirmou.
“Nos idiomas semíticos daquela época, mulher não significa necessariamente esposa”, ressaltou.
Peres afirma que este termo pode ser
oriundo da famosa frase em que Jesus se dirige a sua mãe no episódio
conhecido com Bodas de Caná: “Que tenho eu contigo, mulher?”
Para alguns historiadores, o pergaminho
pode se originar de círculos gnósticos (grupos cristãos daquela época)
muito alternativos.
O diretor do jornal do Vaticano,
“L’Osservatore Romano”, Giovanni Maria Vian, que também é historiador
especializado em Igreja antiga, duvida da autenticidade do documento.
“Há um comércio de (documentos) falsos no Oriente Médio”, comentou,
criticando o fato de que nos Estados Unidos houve “uma tentativa de
fazer barulho em torno deste assunto”.
Segundo ele, a letra de quem escreveu o
papiro é “muito pessoal”, quando os documentos deste tipo eram escritos
com uma letra codificada “muito rígida”, que se parecia com um texto
impresso.
“Na tradição da Igreja, não se conhece
nenhuma menção a uma esposa de Jesus. Segundo todos os índices
históricos, Jesus era solteiro. É dito claramente que Pedro era casado.
Por que se teria ocultado no caso de Jesus?”, questiona.
Para ele, pode-se tratar de um fragmento de evangelho apócrifo de inspiração gnóstica.
Durante os primeiros séculos do
cristianismo, houve inúmeros evangelhos que posteriormente foram
descartados da Bíblia pela Igreja de acordo com seus interesses.
Esses evangelhos teriam sido escritos por
pessoas que realmente conheceram Jesus e apresentavam um quadro mais
completo de sua vida, principalmente, sua infância.
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