Exatamente
há 68 anos nascia Dona Hilda Maria de Lira, minha mãe. Não existe homenagem que
possa descrever ou retratar o que essa mulher fez e ainda faz por mim. Não
existem palavras para descrever a forma leal, fiel e adorável como ela me
trata.
Morava
na Rua Barão de Caruaru (querido bairro do Salgado). Quando eu era criança, em
muitos momentos cheguei a discordar dos puxões de orelha; dos “castigos”; das “lapadas”
com sandálias havaianas etc. Hoje, adulto e pai (tenho um filho e três filhas),
digo com a sinceridade que dela herdei: não poderia ter sido melhor educado;
nada do que minha mãe fez em relação à minha educação foi em vão.
Sua
disciplina me ensinou a ser homem; me deu caráter; me ensinou a viver. Ela não
tinha (como não tem até hoje), aquilo que costumamos chamar de educação
escolástica, mas teve a melhor escola: a vida. Vida dura de operária da antiga
fábrica de doces que funcionou na antiga Rua São Miguel (hoje, Rua Silvino Macedo,
também conhecida como rua da Má Fama). Pois bem, ali minha mãe ralou muito como
operária (trabalhava embrulhando balas – confeitos como era chamado à época). Fazia
isso diariamente, das 07hs às 18hs, semana após semana.
Toda
sua parca remuneração era destinada ao nosso sustento, à nossa sobrevivência.
Nossa família era composta por três pessoas, minha mãe, eu e meu irmão. Meu pai
havia se separado dela quando eu tinha dois anos e meu irmão apenas alguns meses.
Não foi fácil pra ela “segurar a onda”, pois, como disse, não teve a
oportunidade de estudar, de “se formar”.
Trabalhou
desde a infância. Então, sem formação, não lhe restava outra coisa a fazer que
não fosse o trabalho duro. Foi assim como operária em fábrica de doces e
depois, quando demitida na entre safra (havia isso sim), teve que se mudar para
uma localidade chamada “Sítio Poção”, zona rural de Bezerros. Ali moramos quase
às margens do rio Ipojuca. Ela arranjou trabalho nas plantações de tomate que
havia nas proximidades do local. Quer dizer: não tão próximo assim, tinha que
caminhar diariamente cerca de duas léguas (12 Km), até chegar ao local do
trabalho. Saia de casa às 05hs da manhã e somente retornava às 17/18hs da
noite.
Eu
e meu irmão tínhamos 5 e 3 anos respectivamente. Ficávamos em casa, esperando
ela voltar. Nosso alimento ela já deixava preparado. Fazia isso todas as
noites. Naquele lugar, minha hoje velha mãe ficou conosco por cerca de 4 anos
(4 longos e sofridos anos).
Voltamos
pra Caruaru e pra mesma casinha na rua Barão (bairro do Salgado). Minha mãe,
Dona Hilda, voltou a sua vida de operária se aventurando nas fábricas de doces
como embaladeira (era o que sabia fazer).
Aos dez anos de idade comecei a trabalhar pra ajudar. Num determinado momento tive que parar de estudar porque não dava pra conciliar as duas coisas (trabalho e escola).
Hoje,
após passar por supletivos de 1º e 2º graus; após me aventurar e me atrever a
fazer vestibular pro Curso de Ciências Sociais e Direito ao mesmo tempo. Após
concluir o curso de Direito e me tornar o primeiro “formado” da família. Sou
advogado militante e posso dizer com o mais absoluto orgulho: DEVO TUDO ISSO A
VOCÊ MAMÃE.
Portanto,
faço desse texto minha homenagem a quem abriu mão de tudo por mim e por meus
irmãos. A quem deixou de viver. A quem se dedicou mais que cem por cento. Vejo
muitos e muitas falarem de “mulheres guerreiras”. Vejo muitos e muitas falarem
de heroínas. Quero dizer a vocês que conheço uma verdadeira guerreira, uma
verdadeira heroína. Seu nome é: Hilda Maria der Lira. Parabéns pelos seus 68
anos de idade completados hoje. Faço votos que você mamãe, tenha ao menos mais
68 anos de vida pela frente. Não que precise disso, pois sei que sua missão
aqui na terra já foi mais do que completa. Mas porque eu preciso que você continue
conosco. Porque eu sei que com você entre nós, dona Hilda, sempre terei
refúgio; sempre terei proteção; sempre terei guarida.
Feliz
aniversário mãe. Que essa data se repita ao menos até meu último suspiro de
vida. Amo você minha velha guerreira. Se pudesse voltar no tempo e escolher uma
mãe, escolheria você, tantas vezes quantas fosse necessário.
(Advogado, Dirigente
Municipal do PT/Caruaru e filho de Dona Hilda Maria de Lira, com orgulho).
Nenhum comentário:
Postar um comentário